sábado, 25 de janeiro de 2014

VIAJAR DE ÔNIBUS

Viajar em ônibus nesse nosso Ceará bravo e leal ou, mais particularmente, nesta nossa heróica e amada cidade da Senhora de Assunção, é assim como assistir a um espetáculo de prestidigitação, porque aí tudo pode acontecer a qualquer hora. (…) Livrai-vos, pois, do perigo das pedradas. Das mordidas de cobra preveni-vos com soro antiofídico. Carregai trocado vosso dinheiro, para evitar aborrecimentos. Se virdes iniciada uma discussão, (…) arrolhai vossos ouvidos, se acaso não fordes amante de nomes feios. Mas entrai, entrai num ônibus. Enfrentai o coletivo, amigo, se quereis sentir, conhecer de perto a alma do povo, suas reivindicações, suas histórias, seus casos, seu sofrimento, seu calvário, suas poucas glórias. Enfrentai a fila, mergulhai no bojo do ônibus se na verdade desejais conhecer nossa cidade, nossa gente."
(DIAS, Milton. Conversas de ônibus. O Povo, Fortaleza, 22 mar. 1958)
 José Milton de Vasconcelos Dias nasceu em Ipu, em 1919, e morreu em Fortaleza, há exatos trinta anos. Professor universitário e cronista, colaborou com O POVO por 29 anos, publicando crônicas sempre aos sábados. Entre seus livros mais conhecidos, As Cunhãs (1966) e Entre a boca da noite e a madrugada (1971). Póstumos.

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